Virgínia Ginja Campos
Ela corria livre pelo campo, descalça…
Linda!
Chamava-se Branca!
Não, não era a Branca de Neve!, até porque não tinha os sete anões… Até porque não vivia na floresta… Até porque não tinha medo da bruxa má!
Mas era Branca de sua graça!
Assim os pais a batizaram. Assim os amigos a tratavam.
E Branca era feliz e livre!…
Livre porque não conhecia limitações à sua felicidade, à sua liberdade!
Não sei se podemos dizer que ela era realmente livre…ou que nós somos livres! Mas Branca assim acreditava e vivia rindo, brincando e correndo com os animais que encontrava pelo campo e que tão bem a conheciam.
Vivia isolada numa casa, numa fazenda.
Não foi à escola.
Não conheceu de perto os limites impostos pela Sociedade a todas as crianças. Não lhe foi imposta a aculturação…
Até um dia!…
Em que foi avistada, nas suas correrias e brincadeiras, por um grupo de jovens que por ali passeavam.
Logo um jovem mancebo se apaixonou por Branca e a quis levar com ele para a sua casa, a civilização…
Branca também ficou “caidinha” pelo rapaz, a quem chamarei Luís, e não tinha qualquer dúvida de que dali só lhe viria o bem.
Branca deixou de correr livre e sozinha…
Passou a passear diariamente de mão dada com Luís, que lhe chamava já “sua”.
A liberdade de Branca tinha desaparecido.
O amor veio sobrepor-se.
Branca, Branca! O que fazes tu minha linda fada do bosque?!
Deixa-te ficar na tua casa, na tua vida!
Não procures o desconhecido!
Não te deixes iludir por palavras bonitas!
Corre livre e feliz como sempre!
Deixa que o destino te mantenha liberta
Porque algum menino, Luís ou outro
Pensa que te desperta!
E Branca ouviu, pensou, sorriu
E continuou a correr,
Livre e feliz pelos campos
No meio dos animaizinhos e das plantas.
Sem conhecer a tristeza das limitações e das imposições sociais!
Acham possível?
Pois é!
Tentemos fazer com que haja mais Brancas no mundo…
Libertemos das amarras quem as tem!
Virgínia Ginja Campos, Martim Longo, 20 de Agosto de 2025

